O filme de Monique Gardenberg abriu o segundo dia da 1.ª Mostra de Cinema do Brasil, a decorrer em Lisboa, no Cinema São Jorge
Paraíso Perdido é um bar cheirando a anos oitenta, na cidade de São Paulo. A decoração já nem existe, ficou parada no tempo. Tem cara de bar de alterne, mas não é. José é o patriarca e dono do estabelecimento. Alberga o filho e os netos, mais um amigo. Paraíso Perdido é um bar onde se ouve música brega, ou “rasga coração”, como eles dizem.
Monique consegue levar com mestria até ao final alguém segredo.
Esse é, de facto, um filme cheio de camadas e de múltiplas linguagens para que se comuniquem. A expressão através da música, naquele palco do bar, a língua gestual, forma de comunicação entre Odair e a mãe, ex-cantora que ficou surda após uma agressão.
Monique Gardenberg teve muito olho na escolha do elenco. Erasmo Carlos, Júlio Andrade (um dos mais profícuos atores brasileiros, um camaleão), Jaloo (nova promessa da música indie brasileira), Hermila Guedes, Malu Galli, Seu Jorge, Lee Taylor e Marjorie Estiano (a atriz prova, mais uma vez, que nada lhe é impossível fazer. Encarna Milene, uma reclusa que se torna amante da mãe de Imã na prisão. São poucas as cenas, mas ela dá “um show” de interpretação) foram os escolhidos para dar vida a essas personagens. Poderia ter sido um duelo de titãs, mas o que aconteceu foi uma ligação entre todos que permitiu olharmos para essa família, no final, sem qualquer preconceito. “As pessoas não te odeiam pelo que você é, mas pelo que não conseguem ser”, disse Ângelo para o seu sobrinho Imã.